6 de dez. de 2011

Trecho

“A ideia do destino costuma chegar-nos à mente apenas com a idade. Quando jovens, como você, geralmente não pensamos no assunto, percebemos tudo quanto acontece como fruto de nossa vontade. Sentimo-nos como pedreiros que vão construindo diante de si o próprio caminho. Só muito mais tarde é que nos damos conta de que a estrada já estava lá, e que alguém já a traçara para nós, de que a nós só nos cabe seguir adiante. É uma conclusão a que costumamos chegar lá pelos quarenta anos, e então começamos a entender que as coisas não dependem apenas de nós. É um momento perigoso, durante o qual a pessoa até se pode deixar tragar por um fatalismo claustrofóbico. Para se ver o destino em toda a sua realidade, é preciso deixar passar alguns anos mais. Lá pelos sessenta, quando o caminho que deixamos para trás é maior que o que ainda temos pela frente, notamos uma coisa que jamais havíamos notado antes: a estrada então percorrida não era reta, mas repleta de bifurcações, a cada passo uma seta indicando uma direção diferente; dali se afastava uma trilha, mais adiante uma senda relvosa que se perdia entre os bosques. Entramos nalguns desses caminhos sem sequer percebermos; em certos casos, nem chegamos a reparar na existência do desvio; as entradas descartadas nem sabemos aonde nos poderiam ter levado; talvez nos tivessem levado a um lugar melhor, talvez a um pior; não sabemos, e ainda assim não podemos deixar de sentir certa lástima. Podíamos fazer uma coisa, mas não fizemos, voltamos para trás em vez de avançarmos. O jogo-da-glória, você se lembra? A vida procede mais ou menos da mesma forma.
Ao longo do percurso, deparamos com as outras vidas: conhecê-las ou não, vivê-las profundamente ou deixá-las de lado, só depende da nossa escolha do momento; mesmo que não o saibamos, ao escolhermos um caminho em vez de outro podemos estar arriscando a nossa própria existência, bem como a de quem nos acompanha.”

* Trecho de Vá aonde seu coração mandar, da italiana Susanna Tamaro, em tradução de Mario Fondelli, para a Rocco, edição de 1995.

Texto do blog de Romar Beling - 06/12/2012