19 de jan. de 2012

Para Carmen

Ela se chama Carmen. Quarenta e quatro anos. Culta e branca. Olhos grandes que nem de coruja. Santa-cruzense, leitora.

E numa tarde ensolarada de poucas nuvens, no mês de janeiro na pequena sala do trabalho, contou rapidamente para as colegas, momentos de sua infância.

O brilho nos olhos de Carmen ao relembrar os primeiros anos de idade era nítido. Com a mão na orelha, contou que aos seis anos era escolhida para acompanhar as senhoras de idade aos passeios para o cemitério e os jogos no bingo.

- Por que isso Carmen?

- Eu era responsável por aquelas senhora. Eu cuidava daquelas senhoras. Se alguma delas passasse mal, como eu era novinha, eu poderia correr mais rápido e chamar pelo socorro.

As colegas de trabalho riram. Carmen acrescentou. Lembro com saudade, como se fosse ontem. Aqueles jardins grandes e bonitos. E os tinha só pra mim. Para eu correr, rolar, brincar. Sozinha. É. Eu era a única criança.

Recordo a recompensa em cuidar daquelas senhoras, era. Humm.. o suco de framboesa e sanduiches enormes preparados somente para mim. Eu me considerava importante. Pequena mas imensa nos sonhos.

Angélica Weise

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